Tuesday, September 1, 2009

Sobre a Possibilidade, o Possível e o Acaso...

Por: Maria Odete Madeira

Possibilidade, do latim possibilitas, atis, é um termo abstracto para designar a estrutura inteligível do possível. Possível é o que pode ser. Poder ser é aquilo que, não sendo, contudo, é, enquanto poder ser, e, assim, é aquilo que no ser é não-ser, ou nada.

Todas as coisas que, efectivamente, são, as mesmas são porque podem ser. Poder ser é, no ser: ser possível, e ser possível é ter, em si mesmo, enquanto ser que é, a sua própria possibilidade de ser, como um poder (potere) ser dinâmico, ou abertura (yawning gap) ressonante constituinte permanentemente disponível, enquanto a sua própria condição assimétrica de possibilidade efectiva de si mesmo, no seu próprio ser. O que significa que tudo que é integra, enquanto condição constituinte fundamental de si mesmo, duas posições assimétricas do mesmo ser, enquanto ser de si mesmo, a saber: ser e nada.

Na fronteira rotativa ressonante, entre o ser no ser e o nada no mesmo ser, situa-se a dinâmica rotativa da ontologia do acaso, gerada pela assimetria disposicional constitutiva, sintetizada e metabolizada pela dinâmica do ser, enquanto posição de si mesmo, como ser e nada.

O acaso, com origem no latim casus, tem o significado primitivo de causa, ou razão, desconhecida. Nos sistemas, o acaso funciona como um mecanismo interno espontâneo, relacionado com o orgânico material sistémico, por sua vez, ligado aos mecanismos vitais de agregação ou desagregação dos mesmos sistemas, exemplificável por aquilo que nos sistemas constitui o arbítrio ou clinamen (Epicuro) dos mesmos. O acaso não se situa ao nível dos efeitos sistémicos, mas sim das causas ou razões que emergem da dinâmica dos sistemas, dentro dos parâmetros formativos dos mesmos, os quais dependerão sempre das condições iniciais que formaram, ou deram origem aos respectivos sistemas, e das quais (origens) os mesmos sistemas dependem enquanto entidades individuadas e, assim, identidades.

Com ligações radiculares ao nível dos efeitos sistémicos da dinâmica do acaso, situa-se o aleatório, do latim aleatorius, com o significado de incerto ou contingente, dependente do acontecimento ligado ao arbítrio sistémico, ou acaso, cujas dinâmicas são permanentemente condicionadas pelas condições iniciais que formaram o sistema e que o sistema computa, enquanto tais, de modo a manter a sua integridade estrutural.

Poincaré expandiu a noção de aleatoriedade a níveis operacionais, relacionando-a com os termos gregos stochos, com o significado de alvo, e stochastikos com o significado de habilidoso no objectivo, ou alvo. A diferença entre os dois termos (aleatório e estocástico) localiza-se ao nível conjectural dos padrões sistémicos sinalizados e configurados a partir da percepção dos padrões de ritmicidade rotativa, emergentes das dinâmicas aleatórias, dependentes das condições iniciais. A passagem do aleatório para o estocástico é feita quando se reconhece a presença das estruturas "estatistizáveis/probabilizáveis".