Monday, December 21, 2009

Topos: o lugar das coisas, o lugar de cada coisa.

Por: Maria Odete Madeira

Topos é o termo primitivo grego para lugar, não um lugar para as coisas mas o lugar das coisas, de cada coisa, a saber: a sua extensão espacial irredutível.

Assim foi assumida a noção de topos por parte dos filósofos gregos, e assim foi trabalhada e expandida em termos conceptuais, ao longo do pensamento filosófico e científico ocidentais.

Subjacente à noção de topos está o pressuposto filosófico de que tudo que existe tem um lugar que lhe é próprio e, por isso, único (Aristóteles, Meta.7080b, 1083b; Phys.IV, 209a, 209b).

Platão e Aristóteles trabalharam o conceito ligando-o à noção de arché (princípio), a partir do qual a natureza das coisas poderia ser compreendida e explicada, no que dizia respeito à sua origem.





Sunday, November 1, 2009

Percontor, aris, ari, atus sum..., percontari aliquem...

Por: Maria Odete Madeira

Percontor: sondar, perguntar, investigar. Percontari aliquem: interrogar alguém sobre alguma coisa.

O sentido primitivo do termo: sondar, perguntar, investigar, incorpora um impulso de razão formativa, de raiz metafísica vital, marcado pelo imperativo de sobrevivência de cada existente, enquanto presença e abertura ao mundo, abertura a si, à vida, à sua vida, à vida das coisas, enquanto coisas existentes que se mostram, aparecem, parecem, permanecem e (des)aparecem.

Por sua vez, experiência (ex-perior) sinaliza um sentido existencial de prova, um sentido de necessidade, um sentido de unidade, um sentido de verdade, e situa-se na abertura do ser ao próprio ser, enquanto ser das coisas, de todas as coisas.

Percontor, interrogar, enquanto conceito, apela a refentes sistémicos de autenticidade constitutiva, deslocada no ser de todas as coisas pela dinâmica de uma pergunta para uma resposta.

Tuesday, September 1, 2009

Sobre a Possibilidade, o Possível e o Acaso...

Por: Maria Odete Madeira

Possibilidade, do latim possibilitas, atis, é um termo abstracto para designar a estrutura inteligível do possível. Possível é o que pode ser. Poder ser é aquilo que, não sendo, contudo, é, enquanto poder ser, e, assim, é aquilo que no ser é não-ser, ou nada.

Todas as coisas que, efectivamente, são, as mesmas são porque podem ser. Poder ser é, no ser: ser possível, e ser possível é ter, em si mesmo, enquanto ser que é, a sua própria possibilidade de ser, como um poder (potere) ser dinâmico, ou abertura (yawning gap) ressonante constituinte permanentemente disponível, enquanto a sua própria condição assimétrica de possibilidade efectiva de si mesmo, no seu próprio ser. O que significa que tudo que é integra, enquanto condição constituinte fundamental de si mesmo, duas posições assimétricas do mesmo ser, enquanto ser de si mesmo, a saber: ser e nada.

Na fronteira rotativa ressonante, entre o ser no ser e o nada no mesmo ser, situa-se a dinâmica rotativa da ontologia do acaso, gerada pela assimetria disposicional constitutiva, sintetizada e metabolizada pela dinâmica do ser, enquanto posição de si mesmo, como ser e nada.

O acaso, com origem no latim casus, tem o significado primitivo de causa, ou razão, desconhecida. Nos sistemas, o acaso funciona como um mecanismo interno espontâneo, relacionado com o orgânico material sistémico, por sua vez, ligado aos mecanismos vitais de agregação ou desagregação dos mesmos sistemas, exemplificável por aquilo que nos sistemas constitui o arbítrio ou clinamen (Epicuro) dos mesmos. O acaso não se situa ao nível dos efeitos sistémicos, mas sim das causas ou razões que emergem da dinâmica dos sistemas, dentro dos parâmetros formativos dos mesmos, os quais dependerão sempre das condições iniciais que formaram, ou deram origem aos respectivos sistemas, e das quais (origens) os mesmos sistemas dependem enquanto entidades individuadas e, assim, identidades.

Com ligações radiculares ao nível dos efeitos sistémicos da dinâmica do acaso, situa-se o aleatório, do latim aleatorius, com o significado de incerto ou contingente, dependente do acontecimento ligado ao arbítrio sistémico, ou acaso, cujas dinâmicas são permanentemente condicionadas pelas condições iniciais que formaram o sistema e que o sistema computa, enquanto tais, de modo a manter a sua integridade estrutural.

Poincaré expandiu a noção de aleatoriedade a níveis operacionais, relacionando-a com os termos gregos stochos, com o significado de alvo, e stochastikos com o significado de habilidoso no objectivo, ou alvo. A diferença entre os dois termos (aleatório e estocástico) localiza-se ao nível conjectural dos padrões sistémicos sinalizados e configurados a partir da percepção dos padrões de ritmicidade rotativa, emergentes das dinâmicas aleatórias, dependentes das condições iniciais. A passagem do aleatório para o estocástico é feita quando se reconhece a presença das estruturas "estatistizáveis/probabilizáveis".

Saturday, June 20, 2009

Visão, Luz, Relações

Por: Maria Odete Madeira
A visão, do latim visione, significa o acto de percepção de alguma coisa ou coisas pela vista, por sua vez, percepção, do latim perceptione, significa o acto primitivo imediato pelo qual alguma coisa ou coisas são cognitivamente processadas.
Numa relação visão/luz, o acto de percepção da luz é um acto relacional de simultaneidade sincronizada que envolve topologias rotativas locais de lugar e topologias rotativas não-locais de lugar, a saber: o lugar dos corpos e o não-lugar da luz.
Aquilo que é visto ou aquilo que cada sujeito vê imediatamente não é a luz, ela mesma, mas, sim, os corpos na luz, postos na sua singularidade. Na relação, a luz é a diferença rotativa neutra fundamental, entre aquilo que pode ser designado uma coisa, qualquer coisa, e aquilo que, apenas, pode ser designado como não-ponto rotativo originante assimétrico, ou, simplesmente, nada.

Monday, April 27, 2009

Uno - Unidade - Religare - Autonomia

Por: Maria Odete Madeira
O termo uno, do latim unus, com o significado de único, indivisível, irrepetível, é um nome para designar uma forma, qualquer forma, ente, entidade, estrutura ou padrão individuado, que, enquanto tal/tais, possui(em) uma identidade que é conforme a uma ideia (eidos) de unidade, do latim unitas/atis, definida como uma propriedade exemplificada por qualquer/quaisquer identidade(s), tais como: ente(s), entidade(s), processo(s), situação(ções).

A unidade é, em si mesma, descrita pela sua coesão interna, consistência e coerência. Tudo aquilo que é uno, ou único, participa, ou tem unidade, porque ter unidade é ser único, irrepetível. Cada ente, ou entidade, é uno: ens et unum convertuntur, porque cada ente possui uma identidade que o religa (religare) e determina em si mesmo e por si mesmo, naquilo que é a sua autonomia, a saber: referência a si, enquanto posição rotativa de si mesmo, em si mesmo e por si mesmo.

Saturday, April 25, 2009

A negação do Ser pelo Ser: Ser e Nada

Por: Maria Odete Madeira
Em O Sofista de Platão, é refutada a tese de Parménides sobre o Ser. Pensando com Parménides acerca do Ser, tudo o que é possível dizer do Ser, ele próprio, é que o Ser, ele mesmo, é o que é.

No modelo de Parménides, a única afirmação legítima, acerca da verdade do Ser, é que a verdade do Ser é uma tautologia. Das coisas, dos entes ou entidades, apenas pode ser dito que são, elas mesmas, as próprias coisas, os próprios entes ou as próprias entidades.

Não abrindo lugar para os géneros e para a comunicação entre os géneros, Parménides fechou o discurso acerca do Ser imobilizando o próprio Ser no Ser. A tese de Parménides é a de que apenas o Ser é, definindo o Ser como um todo (uno) absoluto, indivisível, imóvel, finito, (acabado) e perfeito, semelhante a uma esfera cujas partes distam, igualmente, do centro.

Platão sinalizou a importância de construir uma nova tese que abrisse o Ser ao devir de si mesmo, enquanto Ser, em si mesmo, mantendo a sua integridade e, assim, a sua identidade. Para isso, o Não-Ser do Ser tinha, de algum modo, de poder ser.

Assim, foram considerados, em O Sofista: o Ser, o Movimento e o Repouso. Comunicariam, estes, entre si? Ou a comunicação não seria possível? Se a comunicação fosse possível, comunicariam todos? Ou uns comunicariam e outros não?

Quando falamos de alguém e dizemos que esse alguém é alto ou baixo, falamos, desse mesmo alguém, como se fosse múltiplo? Se pensarmos que os géneros não comunicam entre si, apenas podemos dizer de alguém que o mesmo alguém é alguém e que o alto é o alto, ele mesmo, ou que o baixo é o baixo, ele mesmo.

Se os géneros não comunicassem entre si, seria legítima a afirmação de que o discurso acerca do Ser apenas poderia afirmar que o Ser é o Ser. Se todos os géneros comunicassem com todos os géneros, daria uma certa confusão, pois, haveria combinações que, entre elas, seriam contraditórias. A hipótese aceitável, para Platão, era a de que alguns géneros comunicariam entre si e outros não, tal como as letras de um discurso, ou os sons de uma sinfonia.

Dos três géneros considerados: o Ser, o Movimento e o Repouso. O Movimento e o Repouso não comunicariam, mas o Ser comunicaria com os dois, porque ambos são. Assim, cada um deles é outro, em relação aos outros dois, e é o mesmo, em relação a si próprio. Temos, pois, que o Outro e o Mesmo são dois géneros que não são o Movimento, o Repouso ou o Ser. Podem considerar-se, assim, cinco géneros, a saber: o Ser, o Movimento, o Repouso, o Outro e o Mesmo.

O movimento é Ser porque participa do Ser, mas sendo Outro, relativamente ao Ser, é Não-Ser. Podemos, deste modo, pensar que assim se passa com todos os géneros. A natureza do Ser, tornando cada Um, Outro, relativamente ao Ser, faz dele um Não-Ser.

Assim, os outros são tantos, quantas vezes o Ser não é, pois, o Ser não é contrário ao Ser. É apenas outro, ou seja, a Alteridade, e não o impensável contrário absoluto do Ser. O movimento é o Não-ser do Repouso, o qual é, ele próprio, o Não-Ser do Movimento. É, pois, cometido o parricídio, o modelo de Parménides é refutado, por Platão: a natureza do Outro existe e fragmenta-se nas suas relações naturais. Cada porção de Ser que se opõe ao Ser é Não-Ser. Os géneros comunicam uns com os outros e o Não-Ser comunica com todos.

A partir de O Sofista, a negação do Ser pelo Ser adquiriu uma realidade ontológica efectiva irreversível, o Ser deixou de ser, apenas, Ser para passar a Ser: Ser e Nada.
Bibliografia:

Platão, Le Sofiste- Tomo VIII – 3ª. Partie, traduzido por Auguste Diès, Société d’Edition «Les Belles Lettres», Paris, 1985

Saturday, April 18, 2009

Natureza - Mundo - Cosmos

No pool genético das palavras, transmissores e veículos de transmissão jogam o jogo "da sobrevivência", traçando projectivamente um sentido de essência subsistente ou eidos de teia de solidariedade sincrónica rotativa.

Considerados os termos Natureza, Mundo e Cosmos, estes podem ser abordados como um exemplo de compatibilidade genética sincronizada, exemplificadora do mesmo eidos  de teia.



Natureza do latim natura (gnatura, natus, gnatus nasci) com o significado de fazer nascer  tem o seu equivalente grego em ousia que significa: produzir, fazer nascer. A equivalência dos termos faz  deslocar uma semântica de paralelismo condensado que os conecta com o termo grego gignomai que significa: chegar a ser. Por sua vez, natura e ousia estão relacionadas com o termo genesiz (nascimento). Tudo que existe no Mundo, existe como presença e existência (natura, ousia, dasein).

Por sua vez, o conceito de Mundo (Mundus) sintetiza um sentido de conjunto de todas as realidades físicas consideradas enquanto realidades existentes, a saber: entes, entidades, padrões, estruturas, relações, situações e processos. Na teia gravítica dos significados, o termo Mundo está ligado ao termo grego Kosmos por uma relação de vizinhança compatibilizada numa rotatividade gravítica de ordem activa, enraizada no deslocamento cognitivo que sinalizou a passagem do pensamento mitológico, ao pensamento dito racional.

De acordo com alguma tradição, terá sido Pitágoras quem introduziu no pensamento grego a noção de Kosmos, como a ordem que preside e reside em todas as coisas. Contudo, a noção de Kosmos aparece, anteriormente, em Anaximandro (Diels, frg, 12A10) e Anaxímenes (Diels, frg, 13B2).

Natureza, Mundo e Cosmos estão graviticamente ligados a um deslocamento trajectivo de um eidos de ordem. Mas falar de ordem implica falar de sincronicidade, termo formado a partir do grego syn+kronos, que significa, literalmente, uma relação de simultaneidade entre tempos diferentes, o que elimina um pressuposto tentador de uniformidade redutora evidenciado por alguns discursos sobre a ordem. A ordem depende de diferenças e não de igualdades. A harmonia depende de diferenças compatibilizadas num ponto sistémico: padrão, estrutura, e assim: ordem.

Neste sentido, no fundamento de compatibilidade genética entre os termos Natureza, Mundo e Cosmos está um sentido de diferença irredutível constitutiva, sustentada por uma dinâmica de sincronicidade, abordável a partir de uma topologia de teia de solidariedade sincrónica rotativa.