Em cada momento histórico são configuradas práticas humanas e sociais produtoras de discursos cientificamente organizados, cuja dinâmica de crescimento sinaliza a existência de uma genética interactivamente comprometida com o crescimento e desenvolvimento das referidas práticas, fazendo com que "a ciência seja mais uma epopeia do que uma progressão linear" (Varela, 2006) e, deste modo, a exigir procedimentos de análise crítica, perspectivicamente adequada à clareza, evidência e objectividade, necessárias a todo o discurso científico.
Assim, torna-se importante incorporar no discurso epistemológico critérios de análise, agilizados por dinâmicas operativas eficazmente descomprometidas, capazes de acompanhar a rotação topológica de quaisquer campos disciplinares científicos, sem se deixarem contaminar pelos mesmos.
Durante séculos, o rigor científico exigia critérios de verdade, com os quais a produção de juízos e a evidência empírica deveriam concordar e adequar e os enunciados deveriam evidenciar indubitavelmente. "A sabedoria e a integridade intelectual exigiam que se abandonasse os enunciados não comprovados e se reduzisse ao mínimo, mesmo em pensamento, o hiato entre especulação e conhecimento comprovado" (Lakatos, 1999).
Actualmente, toda a produção científica é adequada e concorda com a noção de verdade probabilística. O justificacionismo do verdadeiro foi rotativamente deslocado e substituído perspectivamente pelo justificacionismo do provável.
"O templo da ciência tem muitas divisões, e bem diferentes entre si são os seus residentes, tal como diferentes são os motivos que ali os conduziram. O Homem tenta criar para si mesmo, da forma que melhor lhe convenha, uma imagem do mundo simplificada e inteligível" (Einstein, 2005).
A rotação da noção de verdade desloca no território científico uma geometria acidentada que a aproxima dinamicamente daquilo a que se chama crença. É fácil encontrar por detrás de toda a teoria expectativas sentimentos e crenças. Subjacente a qualquer trabalho científico de nível superior, existe uma convicção – aparentada ao sentimento religioso – da racionalidade ou inteligibilidade do mundo (Einstein, 2005).
Subjacente, também, a qualquer trabalho científico está aquilo a que se pode chamar vivência da ciência (Weber, 2002). Espécie de embriaguez, mistura de afecções e afectos expectantes que somatizam e sintetizam o desejo de sucesso de umas e outras teorias, e com as/os quais quaisquer reflexibilidades e reflexividades epistemológicas terão de se relacionar e incorporar na sua perspectividade crítica.
"Antes de Einstein, a maior parte dos cientistas pensava que Newton tinha decifrado as leis irrevogáveis de Deus, comprovando-as a partir dos factos" (Lakatos, 1998). No entanto, a mecânica e a teoria da gravitação newtonianas colapsaram, servindo, posteriormente, de inspiração a modelos de crítica epistemológica como os de Popper e de Kuhn.
As proposições e as leis da ciência, em termos gerais, partilham o mesmo discurso binário: sim ou não, verdadeiro ou falso, adequado ou não adequado, concordando a comunidade científica entre si, pelo menos teoricamente, com a necessidade de minimizar a contaminação do trabalho científico, no que diz respeito à produção de juízos acerca de tudo aquilo que possa contribuir para a perda de objectividade dos mesmos.
Conforme Einstein (2005), “Para o cientista, existe apenas o «ser», mas não o desejar ou o valorizar, não há bem nem mal; não há nenhum fim (…) Há uma espécie de escrúpulo puritano no cientista que busca a verdade (…)”.Pretende-se que qualquer teoria possua um valor cognitivo autónomo generalizável.
É fundamental que toda a produção de juízo científico seja confrontada e suportada por critérios que exemplifiquem a sua legitimidade, coerência, consistência, plausibilidade e robustez.
A corrente indutivista procurou definir as probabilidades de diferentes teorias relativamente à totalidade dos seus elementos probabilísticos, ou seja, se uma teoria fosse considerada, em termos matemáticos, probabilisticamente elevada a mesma poderia ser considerada científica, se a sua probabilidade fosse baixa, ou nula, não seria científica. O valor científico na corrente indutivista era garantido pela exemplificação de uma probabilidade elevada.
Popper (1975) insurgiu-se contra o indutivismo, argumentando que o critério probabilístico, trabalhado pela corrente indutivista não validava o valor de verdade de quaisquer teorias, ou seja, o valor científico de uma teoria poderia ser determinado, independentemente do seu valor probabilístico. Um exemplo e apenas um exemplo poderia falsificar qualquer teoria.
Kuhn concorda com Popper (1979), quanto à crítica feita acerca dos critérios de validação científica dos procedimentos indutivos, relativos àquilo que poderia ser considerado como ciência e pseudo-ciência, mas discorda de Popper no que diz respeito ao critério falsificacionista. Segundo Kuhn (1979), quaisquer critérios de falsificação ou refutação são fundamentados ou pela lógica ou pela matemática, assim todas as cadeias de raciocínio aplicadas à critica das teorias são concluídas por um Q.E.D., constituindo a simples evocação do Q.E.D. a convocação do assentimento de toda a comunidade científica.
No entanto, todas as experiências podem ser refutadas quer quanto à relevância, quer quanto à exactidão, e todas as teorias podem ser modificadas ou ajustadas, sem por isso, em linhas gerais, deixarem de ser as mesmas teorias (Kuhn, 1979).
Considera Kuhn que quaisquer tipos de refutações, além de fazerem parte da pesquisa empírica normal contribuem para o desenvolvimento do conhecimento científico.
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