Monday, December 21, 2009

Topos: o lugar das coisas, o lugar de cada coisa.

Por: Maria Odete Madeira

Topos é o termo primitivo grego para lugar, não um lugar para as coisas mas o lugar das coisas, de cada coisa, a saber: a sua extensão espacial irredutível.

Assim foi assumida a noção de topos por parte dos filósofos gregos, e assim foi trabalhada e expandida em termos conceptuais, ao longo do pensamento filosófico e científico ocidentais.

Subjacente à noção de topos está o pressuposto filosófico de que tudo que existe tem um lugar que lhe é próprio e, por isso, único (Aristóteles, Meta.7080b, 1083b; Phys.IV, 209a, 209b).

Platão e Aristóteles trabalharam o conceito ligando-o à noção de arché (princípio), a partir do qual a natureza das coisas poderia ser compreendida e explicada, no que dizia respeito à sua origem.





Sunday, November 1, 2009

Percontor, aris, ari, atus sum..., percontari aliquem...

Por: Maria Odete Madeira

Percontor: sondar, perguntar, investigar. Percontari aliquem: interrogar alguém sobre alguma coisa.

O sentido primitivo do termo: sondar, perguntar, investigar, incorpora um impulso de razão formativa, de raiz metafísica vital, marcado pelo imperativo de sobrevivência de cada existente, enquanto presença e abertura ao mundo, abertura a si, à vida, à sua vida, à vida das coisas, enquanto coisas existentes que se mostram, aparecem, parecem, permanecem e (des)aparecem.

Por sua vez, experiência (ex-perior) sinaliza um sentido existencial de prova, um sentido de necessidade, um sentido de unidade, um sentido de verdade, e situa-se na abertura do ser ao próprio ser, enquanto ser das coisas, de todas as coisas.

Percontor, interrogar, enquanto conceito, apela a refentes sistémicos de autenticidade constitutiva, deslocada no ser de todas as coisas pela dinâmica de uma pergunta para uma resposta.

Tuesday, September 1, 2009

Sobre a Possibilidade, o Possível e o Acaso...

Por: Maria Odete Madeira

Possibilidade, do latim possibilitas, atis, é um termo abstracto para designar a estrutura inteligível do possível. Possível é o que pode ser. Poder ser é aquilo que, não sendo, contudo, é, enquanto poder ser, e, assim, é aquilo que no ser é não-ser, ou nada.

Todas as coisas que, efectivamente, são, as mesmas são porque podem ser. Poder ser é, no ser: ser possível, e ser possível é ter, em si mesmo, enquanto ser que é, a sua própria possibilidade de ser, como um poder (potere) ser dinâmico, ou abertura (yawning gap) ressonante constituinte permanentemente disponível, enquanto a sua própria condição assimétrica de possibilidade efectiva de si mesmo, no seu próprio ser. O que significa que tudo que é integra, enquanto condição constituinte fundamental de si mesmo, duas posições assimétricas do mesmo ser, enquanto ser de si mesmo, a saber: ser e nada.

Na fronteira rotativa ressonante, entre o ser no ser e o nada no mesmo ser, situa-se a dinâmica rotativa da ontologia do acaso, gerada pela assimetria disposicional constitutiva, sintetizada e metabolizada pela dinâmica do ser, enquanto posição de si mesmo, como ser e nada.

O acaso, com origem no latim casus, tem o significado primitivo de causa, ou razão, desconhecida. Nos sistemas, o acaso funciona como um mecanismo interno espontâneo, relacionado com o orgânico material sistémico, por sua vez, ligado aos mecanismos vitais de agregação ou desagregação dos mesmos sistemas, exemplificável por aquilo que nos sistemas constitui o arbítrio ou clinamen (Epicuro) dos mesmos. O acaso não se situa ao nível dos efeitos sistémicos, mas sim das causas ou razões que emergem da dinâmica dos sistemas, dentro dos parâmetros formativos dos mesmos, os quais dependerão sempre das condições iniciais que formaram, ou deram origem aos respectivos sistemas, e das quais (origens) os mesmos sistemas dependem enquanto entidades individuadas e, assim, identidades.

Com ligações radiculares ao nível dos efeitos sistémicos da dinâmica do acaso, situa-se o aleatório, do latim aleatorius, com o significado de incerto ou contingente, dependente do acontecimento ligado ao arbítrio sistémico, ou acaso, cujas dinâmicas são permanentemente condicionadas pelas condições iniciais que formaram o sistema e que o sistema computa, enquanto tais, de modo a manter a sua integridade estrutural.

Poincaré expandiu a noção de aleatoriedade a níveis operacionais, relacionando-a com os termos gregos stochos, com o significado de alvo, e stochastikos com o significado de habilidoso no objectivo, ou alvo. A diferença entre os dois termos (aleatório e estocástico) localiza-se ao nível conjectural dos padrões sistémicos sinalizados e configurados a partir da percepção dos padrões de ritmicidade rotativa, emergentes das dinâmicas aleatórias, dependentes das condições iniciais. A passagem do aleatório para o estocástico é feita quando se reconhece a presença das estruturas "estatistizáveis/probabilizáveis".

Saturday, June 20, 2009

Visão, Luz, Relações

Por: Maria Odete Madeira
A visão, do latim visione, significa o acto de percepção de alguma coisa ou coisas pela vista, por sua vez, percepção, do latim perceptione, significa o acto primitivo imediato pelo qual alguma coisa ou coisas são cognitivamente processadas.
Numa relação visão/luz, o acto de percepção da luz é um acto relacional de simultaneidade sincronizada que envolve topologias rotativas locais de lugar e topologias rotativas não-locais de lugar, a saber: o lugar dos corpos e o não-lugar da luz.
Aquilo que é visto ou aquilo que cada sujeito vê imediatamente não é a luz, ela mesma, mas, sim, os corpos na luz, postos na sua singularidade. Na relação, a luz é a diferença rotativa neutra fundamental, entre aquilo que pode ser designado uma coisa, qualquer coisa, e aquilo que, apenas, pode ser designado como não-ponto rotativo originante assimétrico, ou, simplesmente, nada.

Monday, April 27, 2009

Uno - Unidade - Religare - Autonomia

Por: Maria Odete Madeira
O termo uno, do latim unus, com o significado de único, indivisível, irrepetível, é um nome para designar uma forma, qualquer forma, ente, entidade, estrutura ou padrão individuado, que, enquanto tal/tais, possui(em) uma identidade que é conforme a uma ideia (eidos) de unidade, do latim unitas/atis, definida como uma propriedade exemplificada por qualquer/quaisquer identidade(s), tais como: ente(s), entidade(s), processo(s), situação(ções).

A unidade é, em si mesma, descrita pela sua coesão interna, consistência e coerência. Tudo aquilo que é uno, ou único, participa, ou tem unidade, porque ter unidade é ser único, irrepetível. Cada ente, ou entidade, é uno: ens et unum convertuntur, porque cada ente possui uma identidade que o religa (religare) e determina em si mesmo e por si mesmo, naquilo que é a sua autonomia, a saber: referência a si, enquanto posição rotativa de si mesmo, em si mesmo e por si mesmo.

Saturday, April 25, 2009

A negação do Ser pelo Ser: Ser e Nada

Por: Maria Odete Madeira
Em O Sofista de Platão, é refutada a tese de Parménides sobre o Ser. Pensando com Parménides acerca do Ser, tudo o que é possível dizer do Ser, ele próprio, é que o Ser, ele mesmo, é o que é.

No modelo de Parménides, a única afirmação legítima, acerca da verdade do Ser, é que a verdade do Ser é uma tautologia. Das coisas, dos entes ou entidades, apenas pode ser dito que são, elas mesmas, as próprias coisas, os próprios entes ou as próprias entidades.

Não abrindo lugar para os géneros e para a comunicação entre os géneros, Parménides fechou o discurso acerca do Ser imobilizando o próprio Ser no Ser. A tese de Parménides é a de que apenas o Ser é, definindo o Ser como um todo (uno) absoluto, indivisível, imóvel, finito, (acabado) e perfeito, semelhante a uma esfera cujas partes distam, igualmente, do centro.

Platão sinalizou a importância de construir uma nova tese que abrisse o Ser ao devir de si mesmo, enquanto Ser, em si mesmo, mantendo a sua integridade e, assim, a sua identidade. Para isso, o Não-Ser do Ser tinha, de algum modo, de poder ser.

Assim, foram considerados, em O Sofista: o Ser, o Movimento e o Repouso. Comunicariam, estes, entre si? Ou a comunicação não seria possível? Se a comunicação fosse possível, comunicariam todos? Ou uns comunicariam e outros não?

Quando falamos de alguém e dizemos que esse alguém é alto ou baixo, falamos, desse mesmo alguém, como se fosse múltiplo? Se pensarmos que os géneros não comunicam entre si, apenas podemos dizer de alguém que o mesmo alguém é alguém e que o alto é o alto, ele mesmo, ou que o baixo é o baixo, ele mesmo.

Se os géneros não comunicassem entre si, seria legítima a afirmação de que o discurso acerca do Ser apenas poderia afirmar que o Ser é o Ser. Se todos os géneros comunicassem com todos os géneros, daria uma certa confusão, pois, haveria combinações que, entre elas, seriam contraditórias. A hipótese aceitável, para Platão, era a de que alguns géneros comunicariam entre si e outros não, tal como as letras de um discurso, ou os sons de uma sinfonia.

Dos três géneros considerados: o Ser, o Movimento e o Repouso. O Movimento e o Repouso não comunicariam, mas o Ser comunicaria com os dois, porque ambos são. Assim, cada um deles é outro, em relação aos outros dois, e é o mesmo, em relação a si próprio. Temos, pois, que o Outro e o Mesmo são dois géneros que não são o Movimento, o Repouso ou o Ser. Podem considerar-se, assim, cinco géneros, a saber: o Ser, o Movimento, o Repouso, o Outro e o Mesmo.

O movimento é Ser porque participa do Ser, mas sendo Outro, relativamente ao Ser, é Não-Ser. Podemos, deste modo, pensar que assim se passa com todos os géneros. A natureza do Ser, tornando cada Um, Outro, relativamente ao Ser, faz dele um Não-Ser.

Assim, os outros são tantos, quantas vezes o Ser não é, pois, o Ser não é contrário ao Ser. É apenas outro, ou seja, a Alteridade, e não o impensável contrário absoluto do Ser. O movimento é o Não-ser do Repouso, o qual é, ele próprio, o Não-Ser do Movimento. É, pois, cometido o parricídio, o modelo de Parménides é refutado, por Platão: a natureza do Outro existe e fragmenta-se nas suas relações naturais. Cada porção de Ser que se opõe ao Ser é Não-Ser. Os géneros comunicam uns com os outros e o Não-Ser comunica com todos.

A partir de O Sofista, a negação do Ser pelo Ser adquiriu uma realidade ontológica efectiva irreversível, o Ser deixou de ser, apenas, Ser para passar a Ser: Ser e Nada.
Bibliografia:

Platão, Le Sofiste- Tomo VIII – 3ª. Partie, traduzido por Auguste Diès, Société d’Edition «Les Belles Lettres», Paris, 1985

Saturday, April 18, 2009

Natureza - Mundo - Cosmos

No pool genético das palavras, transmissores e veículos de transmissão jogam o jogo "da sobrevivência", traçando projectivamente um sentido de essência subsistente ou eidos de teia de solidariedade sincrónica rotativa.

Considerados os termos Natureza, Mundo e Cosmos, estes podem ser abordados como um exemplo de compatibilidade genética sincronizada, exemplificadora do mesmo eidos  de teia.



Natureza do latim natura (gnatura, natus, gnatus nasci) com o significado de fazer nascer  tem o seu equivalente grego em ousia que significa: produzir, fazer nascer. A equivalência dos termos faz  deslocar uma semântica de paralelismo condensado que os conecta com o termo grego gignomai que significa: chegar a ser. Por sua vez, natura e ousia estão relacionadas com o termo genesiz (nascimento). Tudo que existe no Mundo, existe como presença e existência (natura, ousia, dasein).

Por sua vez, o conceito de Mundo (Mundus) sintetiza um sentido de conjunto de todas as realidades físicas consideradas enquanto realidades existentes, a saber: entes, entidades, padrões, estruturas, relações, situações e processos. Na teia gravítica dos significados, o termo Mundo está ligado ao termo grego Kosmos por uma relação de vizinhança compatibilizada numa rotatividade gravítica de ordem activa, enraizada no deslocamento cognitivo que sinalizou a passagem do pensamento mitológico, ao pensamento dito racional.

De acordo com alguma tradição, terá sido Pitágoras quem introduziu no pensamento grego a noção de Kosmos, como a ordem que preside e reside em todas as coisas. Contudo, a noção de Kosmos aparece, anteriormente, em Anaximandro (Diels, frg, 12A10) e Anaxímenes (Diels, frg, 13B2).

Natureza, Mundo e Cosmos estão graviticamente ligados a um deslocamento trajectivo de um eidos de ordem. Mas falar de ordem implica falar de sincronicidade, termo formado a partir do grego syn+kronos, que significa, literalmente, uma relação de simultaneidade entre tempos diferentes, o que elimina um pressuposto tentador de uniformidade redutora evidenciado por alguns discursos sobre a ordem. A ordem depende de diferenças e não de igualdades. A harmonia depende de diferenças compatibilizadas num ponto sistémico: padrão, estrutura, e assim: ordem.

Neste sentido, no fundamento de compatibilidade genética entre os termos Natureza, Mundo e Cosmos está um sentido de diferença irredutível constitutiva, sustentada por uma dinâmica de sincronicidade, abordável a partir de uma topologia de teia de solidariedade sincrónica rotativa.

Wednesday, April 15, 2009

Hegel: o Ser, o Nada e o Devir

Por: Maria Odete Madeira

No sistema das categorias lógicas hegelianas, o negativo lógico constitui-se como a possibilidade de o Ser, em si mesmo, enquanto posição imediata de coincidência permanente consigo mesmo, se saber, enquanto tal, ou seja: enquanto identidade.

Em si mesmo, na sua imediatez, o Ser, ou Absoluto, é, segundo Hegel, Nada, o que significa que na raiz constitutiva do Ser, considerado na sua igualdade e identidade consigo mesmo, está o Nada como o Mesmo que o próprio Ser. O que significa, ainda, que a unidade absoluta sintetizada e expressa pela identidade do Ser, ou Absoluto, é determinada por uma diferença relacional rotativa, deslocada no seio da própria unidade constituinte, considerada, esta, na sua identidade e integridade constitutivas.

De acordo com Hegel, o Ser é, pois, na sua origem, contradição consigo mesmo. Falar do Ser implica falar do Nada como o Ser Outro do Mesmo Ser. Deste modo, o Ser, enquanto sujeito, referência a si ou identidade consigo mesmo, na sua Verdade e Liberdade, é o movimento dialéctico de deslocação do Ser ao Nada, e do Nada ao Ser e, assim, o próprio Devir.

Thursday, April 2, 2009

Discurso científico e critérios de verdade

Por: Maria Odete Madeira


Em cada momento histórico são configuradas práticas humanas e sociais produtoras de discursos cientificamente organizados, cuja dinâmica de crescimento sinaliza a existência de uma genética interactivamente comprometida com o crescimento e desenvolvimento das referidas práticas, fazendo com que "a ciência seja mais uma epopeia do que uma progressão linear" (Varela, 2006) e, deste modo, a exigir procedimentos de análise crítica, perspectivicamente adequada à clareza, evidência e objectividade, necessárias a todo o discurso científico.

Assim, torna-se importante incorporar no discurso epistemológico critérios de análise, agilizados por dinâmicas operativas eficazmente descomprometidas, capazes de acompanhar a rotação topológica de quaisquer campos disciplinares científicos, sem se deixarem contaminar pelos mesmos.

Durante séculos, o rigor científico exigia critérios de verdade, com os quais a produção de juízos e a evidência empírica deveriam concordar e adequar e os enunciados deveriam evidenciar indubitavelmente. "A sabedoria e a integridade intelectual exigiam que se abandonasse os enunciados não comprovados e se reduzisse ao mínimo, mesmo em pensamento, o hiato entre especulação e conhecimento comprovado" (Lakatos, 1999).

Actualmente, toda a produção científica é adequada e concorda com a noção de verdade probabilística. O justificacionismo do verdadeiro foi rotativamente deslocado e substituído perspectivamente pelo justificacionismo do provável.

"O templo da ciência tem muitas divisões, e bem diferentes entre si são os seus residentes, tal como diferentes são os motivos que ali os conduziram. O Homem tenta criar para si mesmo, da forma que melhor lhe convenha, uma imagem do mundo simplificada e inteligível" (Einstein, 2005).

A rotação da noção de verdade desloca no território científico uma geometria acidentada que a aproxima dinamicamente daquilo a que se chama crença. É fácil encontrar por detrás de toda a teoria expectativas sentimentos e crenças. Subjacente a qualquer trabalho científico de nível superior, existe uma convicção – aparentada ao sentimento religioso – da racionalidade ou inteligibilidade do mundo (Einstein, 2005).

Subjacente, também, a qualquer trabalho científico está aquilo a que se pode chamar vivência da ciência (Weber, 2002). Espécie de embriaguez, mistura de afecções e afectos expectantes que somatizam e sintetizam o desejo de sucesso de umas e outras teorias, e com as/os quais quaisquer reflexibilidades e reflexividades epistemológicas terão de se relacionar e incorporar na sua perspectividade crítica.

"Antes de Einstein, a maior parte dos cientistas pensava que Newton tinha decifrado as leis irrevogáveis de Deus, comprovando-as a partir dos factos" (Lakatos, 1998). No entanto, a mecânica e a teoria da gravitação newtonianas colapsaram, servindo, posteriormente, de inspiração a modelos de crítica epistemológica como os de Popper e de Kuhn.

As proposições e as leis da ciência, em termos gerais, partilham o mesmo discurso binário: sim ou não, verdadeiro ou falso, adequado ou não adequado, concordando a comunidade científica entre si, pelo menos teoricamente, com a necessidade de minimizar a contaminação do trabalho científico, no que diz respeito à produção de juízos acerca de tudo aquilo que possa contribuir para a perda de objectividade dos mesmos.

Conforme Einstein (2005), “Para o cientista, existe apenas o «ser», mas não o desejar ou o valorizar, não há bem nem mal; não há nenhum fim (…) Há uma espécie de escrúpulo puritano no cientista que busca a verdade (…)”.Pretende-se que qualquer teoria possua um valor cognitivo autónomo generalizável.

É fundamental que toda a produção de juízo científico seja confrontada e suportada por critérios que exemplifiquem a sua legitimidade, coerência, consistência, plausibilidade e robustez.

A corrente indutivista procurou definir as probabilidades de diferentes teorias relativamente à totalidade dos seus elementos probabilísticos, ou seja, se uma teoria fosse considerada, em termos matemáticos, probabilisticamente elevada a mesma poderia ser considerada científica, se a sua probabilidade fosse baixa, ou nula, não seria científica. O valor científico na corrente indutivista era garantido pela exemplificação de uma probabilidade elevada.

Popper (1975) insurgiu-se contra o indutivismo, argumentando que o critério probabilístico, trabalhado pela corrente indutivista não validava o valor de verdade de quaisquer teorias, ou seja, o valor científico de uma teoria poderia ser determinado, independentemente do seu valor probabilístico. Um exemplo e apenas um exemplo poderia falsificar qualquer teoria.

Kuhn concorda com Popper (1979), quanto à crítica feita acerca dos critérios de validação científica dos procedimentos indutivos, relativos àquilo que poderia ser considerado como ciência e pseudo-ciência, mas discorda de Popper no que diz respeito ao critério falsificacionista. Segundo Kuhn (1979), quaisquer critérios de falsificação ou refutação são fundamentados ou pela lógica ou pela matemática, assim todas as cadeias de raciocínio aplicadas à critica das teorias são concluídas por um Q.E.D., constituindo a simples evocação do Q.E.D. a convocação do assentimento de toda a comunidade científica.

No entanto, todas as experiências podem ser refutadas quer quanto à relevância, quer quanto à exactidão, e todas as teorias podem ser modificadas ou ajustadas, sem por isso, em linhas gerais, deixarem de ser as mesmas teorias (Kuhn, 1979).

Considera Kuhn que quaisquer tipos de refutações, além de fazerem parte da pesquisa empírica normal contribuem para o desenvolvimento do conhecimento científico.

Thursday, March 19, 2009

Metodologia, Método, Modelo: definições

Por: Maria Odete Madeira

Metodologia – termo formado, a partir do grego methodos + logos

Metodologia significa, etimologicamente, o estudo dos métodos [processos (caminhos) e instrumentos] usados para se fazer pesquisa científica.

A metodologia é uma disciplina normativa que tem por objecto o estudo sistemático e lógico dos princípios que dirigem qualquer pesquisa científica, desde os pressupostos básicos, até às técnicas de investigação.

Não deve ser confundida com teoria, uma metodologia não é uma teoria. A metodologia, enquanto critério de pesquisa científica, interessa-se, apenas, pela validade formal, ou condições de validade formais, e não (nunca) pelo conteúdo dos critérios científicos, relacionados com os métodos e técnicas os quais estão mais centrados na capacidade de fornecer conhecimentos específicos/determinados.

Assim, a metodologia, mais do que uma descrição formal de técnicas e métodos a serem utilizados na pesquisa científica, indica a opção que o pesquisador fez para resolver determinada situação, ou problema (que pode(m) ser teórico(s) ou prático(s)) relacionado(s) com o seu objecto de investigação o qual tem de ser, obrigatoriamente, desenvolvido dentro de um quadro científico, enquadrado/enquadrável no paradigma(s) ou teoria(s) vigentes.

O método (methodos) é um procedimento científico, reflexivamente ordenado, constituído por instrumentos básicos, aos quais se aplica, de forma adequada, a reflexão/conjectura e a experimentação. O método tem por objectivo orientar todo o percurso da pesquisa, de modo a alcançar os objectivos preestabelecidos no projecto de pesquisa.

Modelo é uma representação conceptual, ou física, de um processo, ou de um sistema, ou, ainda, de um fenómeno ou de um objecto.

O domínio de aplicação de um modelo científico é definido por aquilo, ou aquela estrutura, que é representado/a no modelo, seja essa estrutura conceptual/abstracta ou física/material.

O comportamento daquilo que é representado por um modelo científico é definido em termos das interacções e/ou relações/relacionamentos entre os seus elementos/componentes, e não (nunca) pelos seus elementos/componentes, considerados individualmente, enquanto singularidades tautológicas referentes.

Wednesday, March 18, 2009

Procedimentos metodológicos de investigação

Por: Maria Odete Madeira

Procedimentos metodológicos de investigação:

identificação, sinalização ou localização de um padrão // observação desse padrão // abstracção/conjectura // procedimentos reflexivos // conclusão ou prova final


1º-identificação, sinalização ou localização de um padrão que figurará como proposta de tese e que pode ser concreto ou abstracto, devendo entender-se por padrão uma proporção que possa ser exemplificada ou expressa por uma estrutura ou configuração, tal como, por exemplo, um objecto, um problema, um enunciado, um facto, um acontecimento, etc… .

2º-observação desse padrão utilizando a formação do próprio observador/investigador, bem como toda a informação/conhecimento, previamente aprovada e disponibilizada pela comunidade científica que seja adequada e, assim, aplicável como critério metodológico àquilo que está a ser alvo de investigação.


3º-abstracção/conjectura feita a partir da observação/experiência.


4º-procedimentos reflexivos que visam a percepção, compreensão, interpretação e explicação do objecto que está a ser trabalhado e que podem ser auxiliados ou apoiados, separadamente ou conjuntamente, por procedimentos lógicos, matemáticos, hermenêuticos, etc…, aqueles que forem cientificamente adequados ao objecto e respectivo contexto/situação/processo.


5º-conclusão ou prova final que deverá exibir de forma desambiguada argumentos conclusivos, suportados por teoria(s) científica(as) que estabeleça(am) critérios de legitimidade/validade científica acerca do objecto constituído como tese e que, enquanto tal, foi observado/investigado.

Sunday, March 8, 2009

Digitizing the Continuum

by Carlos Pedro Gonçalves

The reign of the digital imposes itself with the digitocracy over the continuum. The mathematical continuum, irreducible to the countable, is negated as interdict, as dangerous illegality.

Of mathematics, it is demanded a logocentered logicity, a reifying and imprisoning reduction that strives to reduce the semantic to the syntactic and, thus, extends the formal incompleteness to a semantics that does not possess it.

The mathematical intuition is substituted by the cold deduction that, incapable of scaling new horizons because it lacks imaginative capability, does not explore the mathematical idea and its apprehension by the mathematician that intuits it in a sensual immediateness produced by an imaginative synthesis, idea, itself, by nature, irreducible to a logical logocentrism, as Gödel proved it.

To scale new horizons… to think beyond the barriers of the code… dangerous activities… incompatible with a digitocracy extended to the mathematical activity itself. The formal language ceases being just an instrument of discursive organization and of formalization auxiliary to the proof, to become an instrument of thought control.

From abstractive auxiliars, the language and the formal system become instruments of alienation of the mathematical thinking itself, that, to think the formal, empty of semantics, loses its object of intentionality – the mathematical object, in itself, as abstract object of thought, which, as Gödel proved it, is irreducible to the purely syntactic, to the purely logical.

To digitize the mathematical continuum in the mathematical discrete means to abolish, from the thought, a universe of thinkable forms, to impose the limit of the digital, useful to an effort of computative mechanocracy in which the instrument of the number abolishes the analogical and, thus, the interval itself and the continuum. Without interval, without continuum, without shades, without infinitesimal differences, without empty spaces, thought as empty spaces because continua of nothing. End of the différance towards the end of the différence.

Even if different, digitized, we come to occupy the same houses in the bar codes in which we become, clones in our condition of slaves to the digit.

Badly interpreted Gödel’s theorem, to justify that the notion itself of mathematical truth is reducible to a logical validity, in a first step towards the algorithmization of truth, of geometry, of the continuum, of the interval, of the grey, of the individual as individual, separated from the rest, and non-slaved to the number… and non-slaved to a machine incapable of imagining, incapable of innovating, incapable of jumping outside the tyranny of the formal system, itself limited in itself and right from the point in which it deals with the numbers themselves and with simple arithmetic.

The end of the mathematician (second target), as well as the end of the philosopher (first target) are the two first steps to abdicate from our thought and from those natural systems of systemic homeostasis, thinkable as antibodies that protect us from the dictatorships of the formal and of the machines as ends in themselves.

Saturday, March 7, 2009

Digitalização do Contínuo

Carlos Pedro Gonçalves


O reino do digital impõe-se com a digitocracia sobre o contínuo. O contínuo matemático, irredutível ao contável, é negado como interdito, como ilegalidade perigosa.


Da matemática, é exigida uma logicidade logocentrada, uma redução reificante e aprisionadora que tenta reduzir o semântico ao sintáctico e, assim, estende a incompletude formal a uma semântica que não a possui.


A intuição matemática é substituída pela dedução fria, incapaz de escalar novos horizontes, porque não possui capacidade imaginativa, não explora a ideia matemática e a sua apreensão pelo matemático que a intui numa imediatez sensual produzida por uma síntese imaginativa, ideia, esta, por natureza, irredutível a um logocentrismo lógico, como o demonstrou Gödel.


Escalar novos horizontes… pensar para além das barreiras do código… actividades perigosas… incompatíveis com uma digitocracia alargada à própria actividade matemática. A linguagem formal deixa de ser somente um instrumento de organização discursiva e de formalização auxiliar à demonstração, para passar a ser um instrumento de controlo de pensamento.

De auxiliares abstractivos, a linguagem e o sistema formal passam a ser instrumentos de alienação do próprio pensamento matemático, que, para pensar o formal, vazio de semântica, perde o seu objecto de intencionalidade – o objecto matemático, em si mesmo, enquanto objecto abstracto de pensamento, o qual, como Gödel demonstrou, é irredutível ao puramente sintáctico, ao puramente lógico.

Digitalizar o contínuo matemático no discreto matemático significa abolir do pensamento um universo de formas pensáveis, para impor o limite do digital, útil a um esforço de mecanocracia computativa em que o instrumento do número abole o analógico e, assim, o próprio intervalo e o contínuo. Sem intervalo, sem contínuo, sem matizes, sem diferenças infinitesimais, sem espaços vazios pensados como espaços vazios porque contínuos de nada. Fim da différance para o fim da différence.


Ainda que diferentes, digitalizados, passamos a ocupar as mesmas casas nos códigos de barra em que nos tornamos, clones na nossa condição de escravos do dígito.


Teorema de Gödel mal interpretado para justificar que a própria noção de verdade matemática seja redutível a uma validade lógica, num primeiro passo para algoritmização da verdade, da geometria, do contínuo, do intervalo, do cinzento, do indivíduo enquanto indivíduo separado dos restantes, e não escravizado ao número… e não escravizado a uma máquina incapaz de imaginar, incapaz de inovar, incapaz de saltar para fora da tirania do sistema formal, ele próprio limitado em si mesmo, e desde logo, quando lidando com os próprios números e aritmética simples.


O fim do matemático (segundo alvo), assim como o fim do filósofo (primeiro alvo) são os dois primeiros passos para abdicarmos do nosso pensamento e daqueles sistemas naturais de homeostasia sistémica, pensáveis como anticorpos que nos protegem das ditaduras do formal e das máquinas enquanto fins em si mesmos.

Thursday, March 5, 2009

humanity

By: Maria Odete Madeira

The intersubjective recognition of the humanity, in us, as a supreme constitutive telos that life has gifted us with, commits us responsibly with the right and the duty to defend our humanity as a good that is ours, that is unconditional and that is inalienable.

humanidade

Por: Maria Odete Madeira

O reconhecimento intersubjectivo da humanidade, em nós, como um telos constitutivo supremo que a vida nos doou, compromete-nos responsavelmente com o direito e o dever de defender a nossa humanidade como um bem que é nosso, que é incondicional e que é inalienável.

Sunday, February 15, 2009

Sovereign Good

by Maria Odete Madeira

It is the words... it is the discourse of the others... that address us… it is the face of the others… the gaze of the others… it is the existence of the others… that searches, in us, the imperative that unites our voice… our discourse… our existence… to the voice… to the discourse… to the existence… of the others that gaze upon us and that address us, invoking and evoking the good… the wisdom… the justice… in us.

Wednesday, February 4, 2009

...presença... ousia... dasein...

Maria Odete Madeira 


O deslocamento trajectivo do pensamento metafísico ocidental está ontologicamente ligado ao deslocamento trajectivo do ser como presença (ousia, dasein). 


A identidade da presença constituída como eidos assumiu no cogito cartesiano uma topologia veiculada às categorias de evidência e certeza, tornando-se, deste modo, vulnerável ao domínio da repetição, incorporada na forma de representação metastasiada do eidos cartesiano presente a si e consciente de si como relação a si. 


 No interior da presença (ousia, dasein), o domínio da presença, assegura a representação de si mesma como verdade disponível, replicável por qualquer movimento racional de irredutível auto-afecção logocêntrica/fonocêntrica (Derrida).